Reconhecido como doença pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2022, o lipedema é uma condição vascular crônica ainda pouco diagnosticada e que atinge cerca de 12,3% das mulheres no Brasil.1

 O cirurgião plástico, membro titular pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), Dr. Fernando Amato, e a endocrinologista e metabologista pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), Dra. Thaís Mussi, esclarecem as principais dúvidas sobre lipedema, diagnóstico e tratamento.

O que é lipedema?

A palavra lipedema vem de lipo = gordura + edema = inchaço e a doença é caracterizada pelo acúmulo anormal de gordura nas pernas e, em alguns casos, nos braços, causando dor, inchaço, dificuldade de locomoção e autoestima baixa.

Diferente da obesidade, o lipedema é resistente a dietas e exercícios e, por isso, tem uma relação íntima com os hormônios.

Quais são os sintomas do lipedema?

Os principais sintomas do lipedema são o aumento do volume das pernas, coxas e/ou braços, que crescem desproporcionalmente ao restante do corpo de ambos os lados.

A queixa principal é de alteração da sensibilidade e as pacientes podem relatar dor; dor ao toque; queimação e peso; inchaço; sensação de peso e cansaço nas pernas. Além de dificuldade de locomoção; autoestima baixa e impacto negativo na qualidade de vida.

O que causa o lipedema?

A causa é multifatorial, o que dificulta o diagnóstico e tratamento, mas envolve desde fatores genéticos e familiares, como fatores hormonais, uso de medicações, hormônios, doenças crônicas, alterações venosas e linfática.

Porém, existe uma forte relação do surgimento do lipedema com histórico familiar, puberdade, gravidez e menopausa, além da obesidade.

Outro ponto: a maior parte dos pacientes com lipedema é composta pelo sexo feminino, sendo extremamente raros no sexo masculino.

Qual é a relação entre lipedema e hormônios?

 O estrogênio desempenha um papel central na manifestação e progressão do lipedema, especialmente em momentos de maior variação hormonal, como a puberdade e menopausa, quando há uma sensibilidade aumentada dos tecidos à ação do estrogênio.

Esse fator favorece o acúmulo de gordura nas pernas e braços de maneira desproporcional em relação ao restante do corpo e explica a resistência da condição aos métodos convencionais de perda de peso.

Além do estrogênio, outros hormônios também desempenham papel importante na condição. A insulina, responsável pelo controle da glicose no sangue, pode aumentar a deposição de gordura e a inflamação no tecido subcutâneo, enquanto o cortisol, conhecido como o hormônio do estresse, intensifica a retenção de líquidos e a inflamação, agravando os sintomas do lipedema.

Existem níveis diferentes de lipedema?

Sim, o lipedema é classificado em estágios, de acordo com a gravidade da doença:

Como é feito o diagnóstico?

O diagnóstico é feito por um médico especialista, considerando-se principalmente os sintomas, o histórico do paciente e a realização de exames físicos.

Os complementares, como ultrassom, ressonância magnética, linfografia, densitometria e bioimpedância, podem auxiliar no diagnóstico ou excluir outras patologistas com apresentações semelhantes.

Lipedema tem tratamento?

Não existe uma cura, mas é uma condição em que é possível e necessário resgatar a qualidade de vida da paciente. E, ao contrário do que muitos pensam, a cirurgia não é a primeira opção e deve ser vista como uma alternativa, quando o tratamento clínico não encontra resultados, ou por questões estéticas.

O tratamento do lipedema é individualizado e depende do estágio da doença. As opções podem incluir medicamentos, suplementos e vitaminas, dieta e terapias conservadoras. Entre elas, a fisioterapia, drenagem linfática, uso de meias compressivas e controle do peso.

Quando nenhuma medida clínica apresentou mudanças, ou apresentou mudanças parciais, preferencialmente com estabilização dos sintomas, pode ser recomendado a realizado da lipoaspiração, técnica cirúrgica para remover o excesso de gordura “doente”.

O lipedema pode evoluir para problemas mais graves?

Nos estágios mais avançados, o lipedema pode evoluir para fibrose tecidual, onde o tecido adiposo torna-se endurecido, dificultando ainda mais o tratamento.

Como o tecido gorduroso do lipedema é doloroso e resistente a tratamentos convencionais, a abordagem clínica ideal precisa ser multidisciplinar, incluindo técnicas como drenagem linfática e intervenções hormonais.

Embora o lipedema não tenha cura, o diagnóstico precoce e o controle adequado das alterações hormonais podem aliviar os sintomas e retardar a progressão da doença.

Conclusão

O lipedema é uma doença prevalente entre as mulheres, multifatorial e que se caracteriza pelo acúmulo anormal de gordura nas pernas e, em alguns casos, nos braços, causando dor, inchaço, dificuldade de locomoção e autoestima baixa.

O lipedema é resistente a dietas e exercícios e está relacionado a questões hormonais.

Embora não exista cura, há tratamento e ele deve ser individualizado para cada estágio da doença. As medidas podem incluir desde medicamentos até o uso de suplementos, vitaminas e também o controle do peso. Ações essenciais para devolver a qualidade de vida dos acometidos.

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